No final de semana do dia 28/04 tivemos um evento do Acampamento Júpiter SP: um piquenique com treino de swordplay usando o nome do festival romano Megalesia Ludi. Os jogos de Megalesia. Esses jogos foram criados em homenagem a uma deusa "importada" da Frígia que atende por um montão de nomes diferentes: Deusa Frígia, Cibele, Mãe dos Deuses, Deusa Mãe, Grande Mãe, Magna Máter, etc. Agora, como que uma deusa lá da Frígia acaba em Roma e, ainda por cima, ganhando jogos em homenagem a ela e tals?
E por "deusa lá da Frígia acaba em Roma" entendam exatamente isso: uma delegação saiu de Roma, foi até a Frígia onde ficava o templo principal da deusa, na cidade de Pessino, pegou a imagem da deusa e um grupo de sacerdotes e trouxeram toda essa galera para Roma.
Sendo sincero, essa jornada para buscar a imagem é muito mais interessante para mim que os jogos em si. Aliás, interessante o suficiente para ser utilizado como background para fazer umas atividades online! E foi exatamente isso que fizemos: em um "esquenta" para o evento presencial, simulamos em um jogo de tabuleiro a corrida contra o tempo com as etapas da viagem para buscar Cibele.
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Tabuleiro do jogo Megalesia Circus |
Para os prêmios de cada etapa, já que é uma viagem por várias cidades, fiz cartões postais da Mercurius Express Delivery, um para cada uma das cinco paradas da viagem e um último para a entrada triunfal da deusa em Roma
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Os cinco postais do caminho: 1. Roma, 2. Delfos, 3. Pessino, 4. Cnossos e 5. Siracusa |
Claro, tomei algumas liberdades criativas com o caminho que aparece no jogo. Roma, Delfos e Pessino aparecem no registro dos historiadores romanos, mas precisava que fossem cinco bases (uma para cada dia útil da semana) e fazer um circuito de corrida, então fiz um arco entre Pessino e Roma para a viagem de volta, dei uma ajustada no tamanho de cada trecho e escolhi dois pontos com alguma relação com os livros do Rick Riordan:
- Cnossos, na ilha de Creta: lar do Minotauro, um dos primeiros monstros que Percy Jackson enfrenta e ponto de origem do Labirinto de Dédalo; e
- Siracusa, na ilha da Sicília: onde vivia Arquimedes, um dos maiores inventores e grande matemático dos tempos antigos. No Riordanverso é tido como o "maior filho de Hefesto que já existiu". Porque Hefesto e não Vulcano? Porque era grego. Ninguém é perfeito, né?
Mas afinal, porque a delegação romana está fazendo essa tour pelo Mediterrâneo Oriental?
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O início da corrida: ROMA |
Tudo começa na Segunda Guerra Púnica, o segundo grande confronto entre Roma e Cartago. Aníbal Barca saiu com suas tropas da Península Ibérica, passou pela Gália e invadiu o território italiano. Ou seja, um inimigo poderoso estava próximo de Roma e conseguindo uma série de vitórias. Ao lado de medidas bem práticas para a defesa, como reforçar as posições nas ilhas, construir novos navios de guerra e levantar novas Legiões para enfrentar o general cartaginense, o Senado decidiu consultar os Livros Sibilinos, um conjunto de textos proféticos e soluções para os problemas futuros.
A resposta que conseguiram interpretar dos livros para essa situação de um general estrangeiro, ameaçando a República com seus exércitos já em solo romano era simples: deveriam trazer a deusa Frígia para Roma. Os romanos levavam as Profecias Sibilinas muito a sério, por isso foi formada e enviada a delegação para a Frígia, para trazer a Mãe dos Deuses para viver em Roma.
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Primeira parada: DELFOS |
Tá, os romanos levavam a sério as Profecias Sibilinas, mas trazer uma deusa láááá da Frígia para Roma parecia uma coisa solução meio estranha para o problema. Talvez um esquema meio homeopático de combater a doença com seu igual? Enfrentar o inimigo estrangeiro com uma deusa estrangeira? Os Livros Sibilinos não poderiam estar errados, mas a interpretação sim. Para confirmar a profecia e aproveitando que era caminho mesmo, a delegação romana foi consultar o mais famoso oráculo do mundo antigo: o Oráculo de Delfos.
O Oráculo confirmou a interpretação de que o culto da Mater Deum Magna Idaea deveria ser introduzido a Roma e ainda acrescentou: o rei de Pérgamo, Átalo Sóter, poderia ajudar a conseguir esse objetivo e que deveriam garantir que quando a deusa chegasse a Roma deveriam ser recebida pelos melhores homens de Roma. Com essa resposta, o grupo romano seguiu viagem rumo a Pérgamo, para conversar com o seu aliado lá: o rei Átalo Sóter.
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Metade da jornada: PESSINO |
A delegação romana incluía Marco Valério Levino, que já conhecia o rei Átalo Sóter. Para falar a verdade nesse pedaço da história tem uma certa confusão: uns dizem que o rei topou de primeira entregar a deusa, outros que ele ficou enrolando mas uma chuva de pedras fez ele mudar de ideia rapidinho; uns dizem que a imagem estava bem pertinho de Pérgamo, no Monte Ida, outros que estava lá no templo de Pessino. Uns que ele mandou buscar, outros que ele guiou a delegação até lá... o que interessa é que a delegação conseguiu a imagem da deusa e uns sacerdotes para ir até Roma. Ah, já comentei que a imagem da deusa era uma pedra? Uma pedra que caiu do céu, mas uma pedra. Bom, depois de dois oráculos (os Livros Sibilinos e o de Delfos) falarem que era para levar a pedra para Roma, quem vai discutir, né?
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As duas paradas da viagem de volta: CNOSSOS e SIRACUSA |
O caminho de volta pelo jeito foi bem tranquilo, nenhuma das fontes fala nada a respeito. Eles estavam em cinco quinquerremes, navios grandes de guerra, um dos objetivos da escolha desses navios era justamente impressionar os outros e demonstrar o poder de Roma. Acredito que dificilmente piratas, ou até mesmo navios batedores da marinha cartaginense, iriam querer atacar esse grupo. Outro ponto para o retorno transcorrer sem maiores problemas é que perto da península Itálica os navios da República de Roma tinham razoável domínio dos mares.
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Última parada: ROMA |
E finalmente chegamos de volta a Roma! Trazendo a deusa Frígia e seu estranho culto para as terras da República. Ela foi bem recebida pelos maiores e mais nobres cidadãos romanos, ganhou uma procissão pela cidade e jogos foram promovidos. Posteriormente a Megalesia Ludi foi incluída no calendário de festivais e jogos romanos e, por fim, o templo de Magna Máter foi construído no monte Palatino. Uma posição de grande honra e destaque. Mais uma vez Roma prova a sua força integradora.