segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Leo Spiritus

Precisava de um escudo novo. Não é incomum que as armas importantes dos mitos, contos e ficção em geral sejam conhecidas por um nome especial. Não é a espada do Rei Arthur, é a Excalibur. Espada do Bilbo? Não, essa é a Ferroada. E o universo de Percy Jackson também é assim, quem leu os livros e não lembra da Contracorrente ou da Mordecostas?

Seguindo essa linha, pensei que o meu novo escudo poderia ser uma arma com nome. Para isso precisava ser uma arma especial. Como sou legado de Vulcano, seria interessante vincular de alguma maneira o escudo ao deus do fogo. Um vínculo mais específico que "foi forjado por Vulcano", que é a história de quase todas as armas e equipamentos especiais que aparecem na mitologia greco-romana.

O primeiro item que vem a mente ao se falar de Vulcano e escudo é o escudo de Eneias, feito pelo deus das forjas a pedido de Vênus, sua esposa. O escudo em si é finamente trabalhado, ilustrando várias cenas animadas do futuro de Eneias e seus descendentes, passa pela fundação de Roma, o rapto das Sabinas, diversas conquistas sobre os bárbaros e até as batalhas entre Augusto e Marco Antônio. Sim, além de ser uma defesa mágica e uma obra de arte, o escudo também é profético.

Não vou nem entrar na questão da técnica necessária (e talvez impossível?) para fazer um escudo com todas as cenas que estão descritas na Eneida em EVA com resistência para receber impacto de espadas, lanças e flechas durante as lutas dos eventos do fandom de Percy Jackson, ou o fato que eu prefiro o escudo retangular curvo e o escudo de Eneias é o redondo, mas... quem sou eu para usar o escudo de Enéias?!?!? E cheguei a comentar que o escudo de Eneias não tem nome? Chama escudo de Eneias mesmo, e a ideia era exatamente ter uma arma com nome!

Depois de descartar o escudo de Eneias, cheguei a conclusão que o item que eu fosse criar teria que ser um item original. Com inspiração em alguma história, simbologia ou característica de Vulcano, mas não um escudo presente na mitologia. Enquanto estava desenhando e planejando, vi várias referências e fiquei particularmente interessado nas bossas decoradas. Bossa (ou umbo) é aquela bolinha de metal na frente do escudo e muitas vezes eram gravadas com cenas da mitologia, divindades patronas ou protetoras, padrões geométricos, símbolos, etc. Já sabia onde ficaria a minha referência a Vulcano: na bossa, em uma posição de destaque bem no meio do escudo.

Mas qual seria a referência? Uma bigorna? Meio meh uma bigorna no meio do escudo. Melhor colocar um martelo? Martelo é um dos símbolos de Hércules (tanto que era usado pela II Legião Traiana Fortis) e muita gente ia achar que é um "T" ou até o martelo de Thor. Talvez um foguinho... ou um animal com fogo... Animal com fogo parece uma ideia boa! Fui ver os animais consagrados a Vulcano: o burro, cachorro, garça e leão. É, o leão, pelo fogo interno que tinha, era consagrado a Vulcano. Tem referências também que no templo de Vulcano ficava esculpido um leão que parecia que soprava fogo. Então é isso, a bossa seria uma cabeça de leão! E para ser uma boa arma lendária, precisa de uma origem em tempos heróicos:

Estava tudo bastante adiantado para o meu novo scutum: já havia montado o corpo do escudo, instalado a manopla, separado o material para as bordas, preparado e pintado a folha de decoração; mas para terminar de ancorar a manopla e poder aplicar a folha de decoração era necessário instalar a bossa. E para instalar a bossa precisava primeiro ter uma bossa para instalar. Um trabalho chatinho, demorado e, como já era praticamente de noite, deixei para começar esse processo no dia seguinte. Se acontecesse algo no acampamento e eu precisasse de um escudo para a batalha, podia usar o que peguei do arsenal da Legião, como já estava fazendo desde que virei um legionário.


A estrutura do escudo, aguardando finalização

No outro dia, cheguei nas forjas e fui recebido pelo lar das Forjas do Acampamento Júpiter: Mamúrio Vetúrio, já pensei que iria receber uma bronca ou um convite para testar alguma arma que provavelmente iria explodir na minha cara, mas o fantasma me entregou uma caixa de madeira surrada e razoavelmente chamuscada: "Vi o trabalho que você fez nesse scutum e acredito que finalmente posso lhe entregar isso!"

Conhecendo o histórico pirotécnico das forjas e desconfiado das marcas de fogo na caixa, perguntei: "Hã... e o que é isso? Preciso me proteger?"

"Hahahahahah, ora, ora! Essa é a herança da sua família! Já estava achando que ia ter que mandar para o arsenal, você não tem descendentes ainda e sabe que já passou da idade ideal para receber esse tipo de item, não? Não faça essa cara, eu não tenho culpa nenhuma de você ter chegado tarde aqui no Acampamento! Pode abrir a caixa sem medo, só não coloque o rosto diretamente a frente dela que nem todo legado de Vulcano consegue sobreviver ao fogo!"

Depois desse estímulo animador, coloquei a caixa na mesa e, com uma tenaz, abri a tampa. Fiz bem em ter cuidado, tão logo abri a tampa uma labareda lambeu o teto das Forjas. Por sorte nenhuma das armas escondidas de Mamúrio explodiu com o fogo. Esperei um pouco para saber se haveria mais algum espasmo flamejante e, observando que nada aconteceu, retirei o conteúdo da caixa: uma cabeça de leão que apesar de não estar mais cuspindo fogo, soltava um pouco de fumaça pela boca e parecia bem irritada em ter sido importunada.


Uma bossa em formato de leão!

Tão logo o leão metálico estava nas minhas mãos, o lar emendou uma explicação sobre o autômato mal‑humorado: Nos tempos antigos não era incomum capturar e guardar as armas dos povos conquistados e dedicá-las a Vulcano. Algumas eram mágicas, outras de materiais preciosos e todas eram armas, úteis para qualquer grupo que planeje entrar em combate. Isso fazia com que alguns templos do deus fossem alvos de monstros, ladrões e até de ataques de exércitos inimigos do povo romano. Para proteger esses verdadeiros arsenais eram alocados soldados, autômatos e construídas armadilhas. Na província da Lusitânia as portas de um desses templos eram protegidas por dois leões mecânicos cuspidores de fogo, um para cada folha da porta. Depois da queda do Império Romano, as próprias portas desapareceram nas mãos dos bárbaros e foram dadas como perdidas até que um semideus, filho de Vulcano, conseguiu recuperar as figuras dos leões e trazê-las para o Acampamento Júpiter. Uma delas hoje faz parte das defesas do arsenal mágico da Legião Fulminata e a outra é esta, que vem sendo passada de escudo para escudo e auxiliando os descendentes do deus do mecânica e da técnica nas suas muitas batalhas.

Fiquei um pouco ofendido por Mamúrio me chamar de lerdo, mas bastante contente com a minha herança de família. No mesmo dia instalei a bossa na corpo do escudo, ancorei a manopla nela e apliquei a folha de decoração. Agora tenho um escudo que, ao mesmo tempo que oferece defesa, pode atingir os meus adversários com a respiração incinerante do leão mecânico animado pelo sopro do deus do fogo. Esse escudo é a minha arma mágica: Sopro do Leão, e é bom que os inimigos de Roma mantenham distância!


Pronto para defender o legado de Roma!

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